Filhos da Terra é um projeto que busca documentar e mostrar ao Brasil quem é o povo brasileiro, como são suas festas e celebrações. Nesse sentido, o conjunto de fotografias que nos traz Eraldo Peres soma-se a uma forte linhagem de intérpretes que buscam nossa identidade no domínio da cultura, mais que isso, em uma cultura tradicional que teria se formado a partir de três raças, o indígena, o português e o africano. A liberalidade dos costumes e a escassez de mulheres brancas estariam na origem de todas as gradações de cor, da variedade fisionômica observável nos mulatos, nos mamelucos, nos cafuzos e em outras misturas étnicas. Em suma, o processo histórico teria se cristalizado no fenômeno da mestiçagem que se evidencia não só nos rostos mas também na cultura que esse povo detém.
O Brasil é um país de dimensões continentais, onde cada região guarda paisagens, costumes e histórias que formam uma identidade cultural diversa e mestiça. Entre o Sudeste, Sul, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, encontram-se tradições que resistem ao tempo, expressões populares que contam a trajetória de um povo forjado pelo encontro de diferentes matrizes culturais. Mais do que um território, o Brasil é um mosaico vivo de saberes, celebrações e modos de existência.
Há mais de 20 anos, a pesquisa sobre cultura popular brasileira se transformou em um projeto contínuo de documentação etnográfica e fotográfica. Filhos da Terra busca revelar essa riqueza cultural por meio de imagens e narrativas que percorrem diferentes regiões do país. Cada registro é um convite para adentrar o Brasil profundo, onde a cultura pulsa nas festas, nos rituais, nos ofícios e na memória coletiva de seus povos.
Possibilitar o acesso à informação em um país de dimensões continentais e com uma diversidade étnica e cultural tão ampla é um dos grandes desafios para pesquisadores e documentaristas da cultura popular.
O Filhos da Terra busca superar essa barreira por meio da produção de conteúdos que aproximam o público das manifestações culturais brasileiras, promovendo o conhecimento e o reconhecimento do patrimônio imaterial do país. A cada expedição, o projeto transforma suas pesquisas em diferentes formatos – Cadernos de Viagem, Narrativas Visuais, Multimídias e Rede Cultura Game –, reunindo imagens, relatos e vivências que revelam a riqueza da cultura brasileira.
Mais do que documentar, o Filhos da Terra fortalece e valoriza as tradições populares, ampliando sua visibilidade e reforçando o sentimento de identidade e pertencimento.
É preciso conhecer e refletir, para assim poder
valorizar e preservar!
O projeto conta com apoio expresso em carta da Unesco (BRA/REP/05-0863 / 2010), a qual destaca que o “mérito da iniciativa e a afinidade entre seus propósitos e alguns princípios adotados pela Unesco, tais como a preservação da memória e a valorização do patrimônio imaterial, nos levam a conceder o apoio institucional…”, legitimando sua contribuição para a preservação do patrimônio cultural conforme as considerações da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
O projeto se reconhece também como canal para as Metas do Plano Nacional de Cultura – PNC, apresentadas durante a III Conferência Nacional de Cultura (2013) pelo Ministério da Cultura, e as quais estabelecem diretrizes e ações no período 2010-2020 para o desenvolvimento cultura em todo território nacional.
A Meta 4 do PNC – Política nacional de proteção e valorização dos conhecimentos e expressões das culturas populares e tradicionais implantadas (p. 30 PNC) é o princípio norteador de todo o projeto uma vez que se coloca como meio de contribuição para a valorização do sentimento de brasilidade, identidade e cultura nacional. Apresentando o povo brasileiro pela ótica das suas manifestações e diversidade cultural, explorando os temas das festas populares, dos seus mestres, grupos e territórios.
Outro princípio que norteia Filhos da Terra é o da Cartografia. A divisão em Rotas Culturais de pesquisa e documentação estabelece diálogo com a Meta 3 do PNC – “Cartografia da diversidade das expressões culturais em todo o território brasileiro” (p. 28 PNC).
Os registros e pesquisas do projeto Filhos da Terra são compartilhados com o público por meio de diferentes formatos – Cadernos de Pesquisa, Narrativas Visuais, Multimídias e Rede Cultura Game –, disponibilizados em plataformas digitais, como o site e as redes sociais. Esses conteúdos promovem o acesso à cultura popular, às artes visuais e à fotografia, ampliando a visibilidade das manifestações culturais e fortalecendo sua valorização.
Ao proporcionar esse intercâmbio, o projeto dialoga com a Meta 25 do Plano Nacional de Cultura (PNC), que busca ampliar em 70% as atividades de difusão cultural e intercâmbio nacional e internacional. Além disso, está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, contribuindo para a ODS 4 – Educação de Qualidade, ao fomentar o conhecimento sobre a diversidade cultural brasileira; para a ODS 5 – Igualdade de Gênero, ao reconhecer e valorizar o papel das mulheres nas manifestações culturais tradicionais; para a ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, ao incentivar a economia criativa e o reconhecimento das atividades culturais como fonte de sustento para comunidades tradicionais; para a ODS 10 – Redução das Desigualdades, ao valorizar expressões culturais de grupos historicamente marginalizados; e para a ODS 11 – Cidades e Comunidades Sustentáveis, ao fortalecer o patrimônio cultural imaterial e promover sua preservação para as futuras gerações.
Mais do que documentar, o Filhos da Terra conecta grupos, artistas e mestres da cultura popular, criando redes que atravessam fronteiras e aproximam diferentes territórios, garantindo que essas tradições permaneçam vivas e acessíveis para as futuras gerações.
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